Conheça a história do cientista da computação Hal Finney, pioneiro do Bitcoin (BTC), que realizou a primeira transação da história da criptomoeda primária.
Hal Finney nasceu em 1956, tendo se formado no Instituto de Tecnologia da Califórnia em engenharia em 1979. Antes de se envolver com criptografia, Finney teve uma carreira longa e bem-sucedida na tecnologia, tendo atuado após sua formação no desenvolvimento de vários jogos, como Adventures of Tron, Armor Ambush e Astrosmash.
Hal Finney começou a programar aos 10 anos de idade, aprendendo BASIC em um mini computador da sua escola.
Após seu envolvimento no mercado de jogos, Finney trabalhou para a empresa de tecnologia Bell Labs, onde participou de projetos importantes, como o desenvolvimento de software para o sistema operacional Unix. Em 1984, ele se juntou à empresa de segurança RSA, onde ajudou a desenvolver tecnologias para a internet.
Finney também era ativo na comunidade de criptografia, participando de fóruns e listas de discussão sobre segurança e privacidade. Ele era conhecido por ser um defensor da privacidade e da segurança na internet, e escreveu vários artigos sobre o assunto.
Em 1995, Finney se juntou à empresa de software PGP Corporation, onde trabalhou como engenheiro. Ele ajudou a desenvolver o popular software de criptografia PGP (Pretty Good Privacy), que é usado por milhões de pessoas em todo o mundo para proteger suas comunicações.
Finney também era conhecido por sua paixão pelo espaço, e era um membro ativo da National Space Society. Ele também era um entusiasta da criptografia quântica, acreditando que a tecnologia poderia revolucionar a segurança da informação.
Em 2004, Hal desenvolveu o Reusable Proof of Works (RPOW), uma rede monetária que é considerado o precursor do Bitcoin. O trabalho foi inspirado no BitGold de Nick Szabo, mas foi abandonado por Hal pois se tratava apenas de um protótipo.
Em resumo, Hal Finney foi um programador e criptógrafo talentoso e influente.
Hal Finney e o Bitcoin
Satoshi Nakamoto, antes de lançar o protocolo do Bitcoin para o público, apresentou o whitepaper da criptomoeda em uma lista de discussões sobre criptografia. Entre os participantes desta lista estava Hal Finney.
A primeira reação da comunidade sobre o projeto foi de ceticismo. No entanto, Finney foi a primeira pessoa a demonstrar interesse no Bitcoin.
Hal afirmou:
“Quando Satoshi anunciou o Bitcoin na lista de email de criptografia, ele recebeu uma recepção cética na melhor das hipóteses. Os criptógrafos viram muitos esquemas grandiosos feitos por novatos sem noção. Eles tendem a ter uma reação instintiva.
Eu fui mais positivo. Há muito que me interesso por esquemas de pagamento criptográfico. Além disso, tive a sorte de conhecer e me corresponder extensivamente com Wei Dai e Nick Szabo, reconhecidos por terem criado ideias que seriam realizadas com o Bitcoin. Eu tinha tentado criar minha própria moeda baseada em prova de trabalho, chamada RPOW. Então, achei o Bitcoin fascinante.”
Em 3 de janeiro de 2009, o Bitcoin foi lançado e o bloco genesis minerado. Em 11 de janeiro, Hal Finney se tornou a segunda pessoa que se tem registro a executar um nó do Bitcoin. Para registrar o marco, Finney publicou o icônico tweet:
Running bitcoin
— halfin (@halfin) January 11, 2009
Hal Finney e Satoshi Nakamoto
Devido a identidade de Satoshi Nakamoto ser ainda desconhecida, Hal Finney é apontado como um dos possíveis criadores do Bitcoin. No entanto, tanto Hal quanto sua família, sempre negaram estes rumores.
Mas apesar de negar ser Satoshi, Finney afirmou que se sente como um dos criadores do Bitcoin, visto que a criptomoeda é um projeto construído em conjunto por uma comunidade aberta de desenvolvedores.
O Bitcoin pode ser visto como um barco, cujas peças vão sendo modificadas ou substituídas com o passar do tempo, mas a sua estrutura base permanece a mesma.
Segundo sua família, Finney se comunicou com Satoshi Nakamoto por e-mails privados em várias ocasiões para discutir sobre o desenvolvimento do Bitcoin. Finney chegou a mostrar alguns dos seus emails para a mídia durante entrevista.
Hal afirmou que imaginava Satoshi como um jovem de ascendência japonesa e de inteligência notável.
A primeira transação da história do Bitcoin foi feita entre Satoshi e Hal Finney. Satoshi enviou 10 bitcoins para Hal, que permanecem no seu endereço até hoje.
Coincidentemente, Hal Finney morava a poucas quadras de Satoshi Dorian Nakamoto, um engenheiro que foi creditado como o criador do Bitcoin. Dorian Nakamoto também já havia trabalhado no desenvolvimento de sistemas de pagamento para o governo americano, além de também ter feito parte de grupos de discussão sobre criptografia na internet.
No entanto, Dorian negou o seu envolvimento com o projeto em várias ocasiões.
“A principal razão por que eu estou aqui é para limpar o meu nome, porque eu não tenho nada haver com o Bitcoin. Nada haver com o desenvolvimento. Eu só era um engenheiro fazendo outras coisas”, afirmou Dorian em entrevista.
Esta grande coincidência gerou muitos rumores sobre a identidade de Satoshi e do envolvimento de Dorian e Hal no projeto.
Durante os últimos anos da sua vida, já com a doença Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Finney se dedicou a melhorar o Bitcoin. Usando um equipamento adaptado, Finney passou a programar com o movimento dos olhos quando suas mãos começaram a falhar.
“Por falar em herdeiros, tive uma surpresa em 2009, quando de repente fui diagnosticado com uma doença fatal. Eu estava na melhor forma da minha vida no começo daquele ano, perdi muito peso e comecei a correr.
Eu corria várias meias maratonas e estava começando a treinar para uma maratona completa. Eu corri mais de 20 milhas, e pensei que estava tudo pronto. Foi quando tudo deu errado,” descreveu Hal.
Ao longo dos anos, Finney manteve-se ativo na comunidade do Bitcoin, respondendo perguntas e compartilhando sua sabedoria sobre a tecnologia.
Leia mais: O Bitcoin e eu – Hal Finney
Finney relatou que minerou alguns blocos do Bitcoin, mas que parou pois a atividade estava esquentando demais o seu computador. No texto Bitcoin e Eu, o programador afirmou que ficou surpreso ao acessar as suas chaves privadas meses depois e descobrir que os seus ativos estavam lá e que eles possuíam valor monetário.
“Ouvi falar novamente sobre o Bitcoin no final de 2010, quando fiquei surpreso ao descobrir que ele não apenas ainda estava funcionando, como os bitcoins realmente tinham valor monetário.
Tirei a minha carteira velha do pó e fiquei aliviado ao descobrir que meus bitcoins ainda estavam lá. À medida que o preço subia, transferi as moedas para uma carteira offline, onde espero que eles tenham algum valor para meus herdeiros,” afirmou.
Apesar da grande valorização da criptomoeda nos últimos anos, o bitcoin não possuía valor comercial nos seus primeiros meses de vida, e contava com uma baixa liquidez e adoção.
Segundo relatado por sua família, a maior parte dos bitcoins minerados por Hal foram vendidos ao longo dos anos para pagar o seu tratamento médico.
A história de Hal Finney vem servindo de inspiração para muitos na comunidade Bitcoin nos últimos anos. Mesmo com uma doença em estágio terminal, Finney dedicou os seus momentos para desenvolver a maior rede monetária descentralizada do mundo.
Congelado para o futuro
Após ter sido declarado clinicamente morto em 2014, o corpo de Hal Finney foi levado para a clínica Alcor Life Extension Foundation, no Arizona, para que seu último desejo fosse cumprido. Hal foi congelado criogenicamente para que o seu corpo possa ser descongelado no futuro.
“É onde ele permanecerá até que tenhamos tecnologias para reparar os problemas que ele teve, como ALS e o processo de envelhecimento. E então podemos trazer Hal de volta feliz e inteiro novamente,” afirmou Max More, diretor da Alcor e amigo pessoal de Hal.
No processo de criogenia, os fluidos do corpo são removidos e substituídos por químicos para evitar a formação de cristais de gelo que danifiquem as células. Posteriormente, o corpo é congelado e mantido em um tanque de alumínio contendo nitrogênio líquido.
Atualmente, nenhuma pessoa congelada criogenicamente retornou à vida. Espera-se que a medicina evolua para que o processo possa ser desfeito.
Fran Finney, esposa de Hal, comentou sobre a decisão do marido:
“Hal respeita as crenças das outras pessoas e não gosta de discutir. Mas não importa para ele o que as outras pessoas acreditam. Ele tem confiança suficiente em como descobrir as coisas por si mesmo. Ele sempre acreditou que poderia encontrar a verdade e não precisa convencer ninguém.
[…] Ele sempre foi otimista quanto ao futuro. Cada novo avanço, ele abraçava, cada nova tecnologia. Hal apreciava a vida e fazia o máximo de tudo,” afirmou Fran.
Hal Finney é descrito por seus amigos e pessoas próximas como alguém gentil e humilde, e que não precisou abdicar das suas habilidades sociais para manter a sua genialidade:
Caso Hal retorne a vida, é possível que ele se torne a pessoa mais rica do mundo, graças aos seus bitcoins guardados, especialmente se ele for de fato Satoshi Nakamoto.