Jorge Stolfi, professor de computação da Unicamp e conhecido crítico do Bitcoin (BTC), voltou a falar sobre o mercado de criptoativos em entrevista concedida ao portal El Pais. No entanto, as críticas rasas de Jorge refletem uma falta de conhecimento básico sobre o protocolo do Bitcoin.
Erro técnico
Um erro técnico crasso de Stolfi chama a atenção, pois a computação é sua área de especialização, e ele parece possuir muitas opiniões fortes sobre o funcionamento do Bitcoin e da tecnologia da timechain.
Segundo o professor da Unicamp, o Bitcoin é muito centralizado na mineração, indicando que isso seria um problema para a rede.
Segundo Jorge Stolfi:
“O Bitcoin tem seis pools que controlam 80% do poder de mineração. Portanto, eles podem controlar o que entra nos blocos”.
Apesar das críticas de Stolfi, que é um cientista da computação, gosto sempre de destacar as grandes mentes que se dedicam hoje ao desenvolvimento do Bitcoin, como Adam Back, pai da computação moderna.
Por que ele está errado?
Um pequeno número de pools são de fato responsáveis por gerenciar (não controlar) a maior parte do poder computacional direcionado para o Bitcoin. Pools de mineração não são donas desse hash power, apenas permitem que mineradores de todo o mundo se unam em uma espécie de cooperativa.
Isso ocorre pois é muito difícil para um minerador trabalhar sozinho na resolução de um bloco. Dessa forma, eles se unem através de uma cooperação mútua.
Mas o ponto que deve ser destacado na fala de Stolfi é de que as pools “podem controlar o que entra nos blocos”. Apesar de sutil, este fato está tecnicamente errado. Os blocos de transação só são aceitos pelos nós validadores caso todas as transações e o processo estejam em conformidade com as regras básicas do protocolo, definidas pelo Consenso Nakamoto.
Caso um minerador (ou pool de mineração) “espertinho” tente burlar as regras para “adcionar o que ele quiser” no bloco, algo muito interessante acontecerá: o bloco será rejeitado e ele não será recompensado com os bitcoins minerados, nem com as taxas de transação dos usuários.
Ainda assim, caso uma pool “espertinha” utilize indevidamente o poder computacional dos seus mineradores, algo muito interessante vai acontecer: ela vai perder clientes.
Dessa forma, Satoshi Nakamoto alinhou os incentivos da rede Bitcoin para motivar comportamentos cooperativos, no que é a maior rede monetária descentralizada do mundo. E não, o Bitcoin não é centralizado, como afirmado.
Bitcoin é uma pirâmide?
O Bitcoin não é uma pirâmide, assim como qualquer outra moeda ou ativo que não seja baseado em fluxo de caixa. Sua precificação é baseada no equilíbrio entre compradores e vendedores, assim como ouro, prata, dólares, pesos argentinos… e NINGUÉM promote qualquer tipo de ganho relacionado ao bitcoin.
E sim, ele pode ir a zero, caso o mercado decida isso, apesar de ser altamente improvável, visto que o bitcoin é uma tecnologia de dinheiro e reserva de valor superior a qualquer outro ativo utilizado pela humanidade, sendo mais portátil, divisível, facilmente verificável e escasso, além da rede possuir aplicações únicas, como servir como um registro público eterno e incensurável.
Por fim, Jorge Stolfi não faz nenhuma diferenciação entre Bitcoin e “criptomoedas”, que definitivamente não são a mesma coisa.
Como é possível observar, responder comentários rasos pode ser uma tarefa trabalhosa. Outros comentários do professor da Unicamp podem ser respondidos em textos posteriores.