A adoção do Bitcoin (BTC) e sua importância para a América Latina
Entenda sobre a adoção e a importância do Bitcoin (BTC) e das tecnologias descentralizadas para os povos da América-Latina.
Os países latinos, cuja maioria experimentaram na história recente episódios de hiperinflação, confiscos de poupança e ditaduras fechadas, agora estão se tornando uma das regiões mais abertas do mundo à adoção do Bitcoin e do mercado de criptoativos.
Com a adoção do Bitcoin por El Salvador e com o aceno de diversos países latinos para uma regulamentação favorável ao setor, a região se destaca no crescimento do mercado global de criptoativos. Este movimento ocorre especialmente devido à adoção espontânea das populações do continente.
A adoção na América Latina
Em junho de 2021, o presidente de El Salvador anunciou durante uma conferência que planejava tornar o bitcoin moeda legal do país latino. Cerca de dois meses após o anúncio, o legislativo do país aprovou a Lei Bitcoin com 62 votos contra 20, colocando o país na história do cripto-mercado.
Mas apesar da iniciativa do governo salvadorenho e do presidente Nayib Bukele, a adoção na região e no continente está ocorrendo de maneira orgânica pelas populações locais.
A própria ideia de adotar o bitcoin em El Salvador surgiu quando em algumas praias da região, comerciantes começaram a adotar naturalmente o criptoativo como método de pagamento, e foram posteriormente incentivados por projetos sociais na região.
O top 20 do ranking de adoção das criptomoedas da Chainalysis possui 4 países da América do Sul, que são Venezuela, Argentina, Colômbia e Brasil, respectivamente, que ocupam a 7º, 10º, 11º e 14º posição.
Uma série de ações e propostas legislativas na região vem chamando a atenção do mercado. Recentemente, o Brasil zerou o imposto sobre sobre a importação de ASICs, equipamentos utilizados na mineração de Bitcoin e de criptoativos que utilizam o algoritmo de Prova de Trabalho (PoW).
Atualmente não existem operações de mineração em larga escala no país devido aos altos custos de eletricidade e ao clima não propício para a atividade. No entanto, a isenção de impostos pode tornar o país um centro para a atividade na região.
Segundo um minerador local, cerca de US$ 11 bilhões em eletricidade desperdiçada por ano poderiam ser direcionadas para a atividade no país:
“Energia elétrica é ainda muito cara no Brasil, porém há uma perda de energia enorme, resultando em mais ou menos 58 bilhões de reais por ano por parte das geradoras. Parte disso poderia minerar Bitcoin para aumentar a receita”
Segundo o minerador:
“Esse movimento deve incentivar novas empresas a entrar na indústria, mas por possuir barreiras de mercado significativas e uma grande curva de aprendizado, entendemos que o caminho está mais para a consolidação do setor”.
O recém-eleito presidente da Colômbia, Gustavo Petro, vem fazendo afirmações positivas sobre o mercado desde 2017, e sugeriu que o país possa se tornar uma referência mundial para a mineração direcionando os recursos energéticos do país para a atividade:
“E se a costa do Pacífico aproveitasse as quedas íngremes dos rios da cordilheira ocidental para produzir toda a energia do litoral e substituir a cocaína por energia para as criptomoedas? A moeda virtual é pura informação e, portanto, energia” – afirmou Petro.
“O Bitcoin remove o poder de emissão dos estados e a senhoriagem da moeda dos bancos. É uma moeda comunitária que se baseia na confiança de quem realiza transações com ela, pois é baseada em um blockchain, a confiança é medida e cresce, daí sua força”, disse Petro em 2017.
Apesar de El Salvador estar com um prejuízo não realizado devido às suas compras de bitcoin, o país já observa o efeito da adoção do criptoativo na região. Segundo relatado pelo Ministério do Turismo, o setor cresceu cerca de 30% no país após a decisão de estabelecer o bitcoin como moeda legal. Este movimento pode ser atribuído à grande exposição na mídia que o país latino recebeu após a decisão.
Caso a estratégia adotada por El Salvador enriqueça o país a longo prazo, certamente a Teoria dos Jogos fará com que outros países, especialmente os mais próximos, estejam mais incentivados a tomar o mesmo caminho.
A importância do Bitcoin para a região
A América-Latina passou ao longo da sua história por uma série de moedas fracas, que foram uma das principais causas responsáveis por empobrecer a região. O mundo todo recebe notícias sobre a crescente inflação na Argentina e a hiperinflação da Venezuela. No entanto, este é um problema de longa data.
O Brasil, a maior economia da região, passou por problemas monetários desde os anos 40 até 1994, quando uma reforma econômica deu fim à hiperinflação no país.
Muitos países da região também já passaram por ditaduras e regimes fechados, como é o caso do Brasil, Argentina, Chile e vários outros durante o século XX. De certa forma, as populações locais possuem uma memória coletiva de que não devem confiar plenamente nos governos locais, que foram responsáveis pela destruição do poder de compra de dezenas de moedas apenas no Brasil ao longo da sua história.
Os países da América-Central, como El Salvador, dependem muito de remessas internacionais para países como Estados Unidos, visto a grande quantidade de imigrantes latinos na região. As taxas para as transferências internacionais podem ser muito caras, o que inviabiliza e encarece o envio de dinheiro de empresas e indivíduos.
O bitcoin fornece uma rede monetária descentralizada para os quase 1 bilhão de pessoas que vivem na América do Sul e Central. Com 1 ou 2 dólares é possível fazer uma remessa de bitcoin para qualquer parte do mundo, que será processada após alguns minutos, a depender dos picos de atividade da rede.
Ainda assim, micropagamentos através da Lighting Network e Liquid podem ser processados quase instantaneamente com um baixo custo de transação.
A queda de Roma e os povos latinos
Relatos apontam que os povos latinos habitavam a região da península Itálica por volta do ano 1000 a.C e foram os responsáveis pela fundação das primeiras vilas que viriam a se tornar Roma, o maior império da história.
Muitos historiadores apontam para a diluição da moeda romana como um fator predominante para a queda do Império. Para arcar com os altos custos do estado romano, o governo decidiu diluir a pureza da liga metálica do denário, moeda de prata que circulava na região.
A pureza da moeda romana foi diminuída ao longo dos anos até que, próximo ao fim do Império, as moedas tinham menos de 5% de prata, como descreve o Visual Capitalist. Por volta do ano de 265 dC, próximo ao fim do império, havia apenas 0,5% de prata na moeda romana, o que fez os preços dispararem 1.000%.
A hiperinflação está intimamente ligada com a história dos povos latinos, que passaram ao longo dos séculos por centenas de moedas e experimentos monetários fracassados.
O Bitcoin e o mercado de criptoativos permitem que não seja mais necessário confiar em imperadores, presidentes, banqueiros centrais ou políticos para possuir um dinheiro de qualidade, que não perde valor sistematicamente ao longo do tempo.
Nos últimos anos, não somente a América-Latina, mas boa parte do mundo está imprimindo dinheiro para arcar com os custos dos governos, exatamente como o Império Romano. Este cenário tem o potencial para destruir a sociedade moderna como conhecemos, assim como a diluição da moeda destruiu Roma.
Para se proteger da desvalorização do dinheiro, os romanos recorreram à reservas de valor milenares, como o ouro e a prata. Hoje, possuímos a possibilidade de recorrer ao ouro digital, um ativo com propriedades monetárias, de custódia e de resistência à censura superiores ao do próprio ouro.