Desenvolvedores do Bitcoin propõe congelar 25% das moedas devido a ameaça quântica

Um grupo de desenvolvedores de Bitcoin publicou recentemente uma proposta que visa estabelecer um prazo para congelar bitcoins armazenados em endereços considerados vulneráveis a ataques de computadores quânticos, a menos que esses fundos sejam migrados para carteiras com proteção pós-quântica. Essa iniciativa, embora não seja totalmente inédita, traz avanços importantes na formalização e homologação de medidas preventivas contra uma ameaça crescente no horizonte da criptografia.
A preocupação principal é que, mesmo que os computadores quânticos capazes de comprometer a segurança do Bitcoin ainda não existam em escala prática, a evolução tecnológica aponta para a possibilidade de esses ataques acontecerem nos próximos anos. Segundo estudos recentes, computadores quânticos com poder suficiente para quebrar algoritmos criptográficos tradicionais podem surgir entre 2027 e 2030. Além disso, avanços em algoritmos quânticos aumentam a eficiência das máquinas, reduzindo os recursos necessários para esses ataques.
Um ponto crucial destacado pelos desenvolvedores é o risco de ataques silenciosos, nos quais agentes maliciosos roubariam fundos sem que ninguém perceba até que seja tarde demais — o chamado “Dia-Q”. Nessa situação, as transações fraudulentas poderiam ser escondidas temporariamente, tornando o dano mais severo quando finalmente revelado.
Estima-se que cerca de 25% de todos os bitcoins existentes estão atualmente expostos a esse risco. Isso ocorre porque muitos dos primeiros usuários, incluindo o próprio criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, utilizaram endereços do tipo P2PK (Pay to Public Key), nos quais a chave pública fica exposta permanentemente. Além disso, até mesmo endereços mais recentes, como P2PKH e P2SH, revelam suas chaves públicas no momento em que realizam transações, deixando esses fundos vulneráveis durante o período que a transação está sendo confirmada na blockchain, geralmente cerca de 10 minutos.
A proposta apresentada inclui a criação de novos endereços seguros contra ataques quânticos, como o P2QRH, detalhado no BIP-360. Também prevê a introdução de um novo BIP para estabelecer um cronograma de migração:
- Na primeira fase, o envio de bitcoins para endereços vulneráveis seria proibido, forçando a adoção dos novos endereços resistentes.
- Em uma etapa seguinte, as assinaturas antigas (ECDSA e Schnorr), que são vulneráveis, seriam invalidadas, congelando efetivamente os fundos não migrados.
- Uma fase opcional prevê, caso haja avanços, um mecanismo de recuperação para os bitcoins legados, possivelmente utilizando provas criptográficas zero-knowledge para autenticar o acesso legítimo às carteiras antigas.
A importância dessa medida se torna clara diante do montante estimado em mais de 5,2 milhões de bitcoins (equivalentes a centenas de bilhões de dólares), ligados a endereços com chaves públicas expostas. Se esses fundos fossem comprometidos e movimentados de forma massiva por agentes quânticos mal-intencionados, isso poderia provocar uma queda brusca no valor do bitcoin e causar impactos econômicos severos em todo o ecossistema.
Outro ponto de preocupação está em instituições como corretoras e custodiantes, que concentram grandes quantidades de bitcoins em carteiras vulneráveis. Um ataque bem-sucedido poderia levar à falência dessas empresas, abalando ainda mais a confiança no mercado.
Do ponto de vista técnico, a migração para endereços pós-quânticos traria mudanças significativas. As assinaturas nesses novos endereços são muito maiores, podendo aumentar em até 20 vezes o tamanho das transações. Isso impactaria diretamente a capacidade de processamento da rede e possivelmente elevaria as taxas de transação, o que pode gerar desconforto para os usuários e abrir debates sobre o tamanho dos blocos e a escalabilidade do Bitcoin.
Embora as discussões estejam apenas começando e nada precise ser feito imediatamente, os desenvolvedores ressaltam que a comunidade e os investidores precisam acompanhar de perto esse tema. As decisões tomadas agora terão efeitos a longo prazo na segurança e na sustentabilidade da rede.