FMI afirma que El Salvador não está comprando 1 bitcoin por dia

Desde março de 2024, o governo de El Salvador afirma publicamente estar comprando 1 bitcoin por dia como parte de sua estratégia para consolidar o país como referência global no uso de criptomoedas. Dados on-chain, que rastreiam transações na blockchain, de fato apontam a entrada diária de 1 BTC nas carteiras vinculadas ao governo salvadorenho.
No entanto, um relatório publicado na quinta-feira (15) pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) coloca essas compras em dúvida. Segundo o documento, o país não estaria adquirindo novos bitcoins desde fevereiro deste ano. Na avaliação do órgão, os depósitos recentes seriam apenas transferências internas de criptomoedas que já pertenciam ao governo, não compras no mercado.
Essa informação contrasta com as declarações do presidente Nayib Bukele, que mantém o discurso de acumulação constante de bitcoins como parte da política econômica nacional. Em maio, por exemplo, Bukele voltou a afirmar publicamente que o país estava adquirindo novas unidades da moeda digital, ignorando recomendações do próprio FMI.
Conflito com o FMI
No início de 2025, El Salvador firmou um acordo financeiro com o FMI que previa, entre outras condições, a suspensão de compras adicionais de bitcoin. A justificativa do fundo está relacionada ao risco de exposição excessiva às oscilações do ativo, que poderia impactar a já frágil estabilidade fiscal do país. Apesar disso, o governo de Bukele manteve o programa de acumulação, ao menos em seus anúncios oficiais.
O novo relatório, porém, sugere que as autoridades estariam apenas reorganizando bitcoins previamente adquiridos, transferindo-os entre carteiras diferentes para criar a percepção de que novas compras estão sendo realizadas. “As autoridades continuam cumprindo os compromissos de não acumular bitcoin voluntariamente”, afirma o FMI, destacando que os aumentos de saldo seriam resultado da consolidação de ativos já existentes.
Reação do governo
Até o momento, o presidente Nayib Bukele não se manifestou diretamente sobre as alegações do FMI. Recentemente, ele voltou a publicar capturas de tela do saldo de bitcoins do país, comemorando a valorização do ativo, que elevou as reservas salvadorenhas a cerca de US$ 750 milhões na última semana, impulsionadas pela alta de preço do bitcoin no mercado global.
O futuro da estratégia
Desde 2021, quando se tornou o primeiro país do mundo a adotar o bitcoin como moeda de curso legal, El Salvador mantém uma política de incentivo ao uso e ao investimento em criptoativos, com projetos que vão desde bônus tokenizados até a criação da chamada “Bitcoin City”. A nova polêmica, entretanto, levanta dúvidas sobre a transparência dessas operações, ao mesmo tempo em que evidencia o embate entre o governo local e instituições financeiras internacionais.